Abandonar o emprego e ver a saúde definhar enquanto anos se passam à espera de uma cirurgia que não é urgente, mas também não pode deixar de ser feita, é sofrimento que se arrasta na vida de muitos que enfrentam as filas da rede pública de saúde. Essa situação se agravou com a pandemia de covid-19, que empurrou tudo o que não era emergencial para depois.
Em Mato Grosso do Sul, as cirurgias ortopédicas – para corrigir problemas no ombro, coluna e pernas, por exemplo – são a maioria dessas demandas na Justiça, para quem os pacientes recorrem quando não são atendidos. O governo estadual lançou há mais de um ano o mutirão "MS Saúde: Mais Saúde, Menos Fila", como plano para dar fim à elas, mas admite que tem enfrentado dificuldades para isso.
O secretário estadual de Saúde, Maurício Simões, lembra que a proposta inicial era usar a soma de R$ 62 milhões em verbas do Estado e do Ministério da Saúde, para pagar as cirurgias aguardadas em hospitais públicos ou privados. Os pagamentos foram baseados em tabela de remuneração própria, mais atrativa por fixar valores até seis vezes maiores que a tabela do SUS (Sistema Único de Saúde).
Cirurgia nos olhos feita pelo mutirão em hospital de Fátima do Sul (Foto: Álvaro Rezende/Governo de MS)
Nesta quarta-feira (29), ele disse que considera "subir ainda mais a tabela", já que a última oferta para hospitais e médicos cirurgiões se credenciarem para atender os pacientes com problemas ortopédicos não teve sucesso. "Não tivemos adesão, então, eu tenho justificativa para oferecer 8, 9 ou 10 vezes a tabela, para ver se profissionais e hospitais se interessam", falou.
O mesmo desinteresse não foi problema na hora de atender quem esperava por cirurgias oftalmológicas, que em geral são mais simples, baratas e rápidas. "A gente ofereceu duas vezes a tabela e tivemos cirurgia oftalmológica por todo o Estado", compara o secretário. Tanto é que, entre as quase 15 mil operações feitas dentro da primeira etapa do mutirão, a maior parte foi nos olhos (8.682).
Ele também explica que, mesmo não sendo de alta complexidade, as cirurgias ortopédicas mais demandadas exigem uma análise individual do paciente, o que acaba inviabilizando uma "produção em série" no mutirão com cirurgiões operando de forma padrão.
Além do preço e das especificidades da ortopedia, outra barreira é achar leitos disponíveis em Campo Grande, onde está a maioria dos especialistas.
O secretário, que também é médico cirurgião, explica que as cirurgias ortopédicas não podem ser feitas como "produção em série" (Foto: Henrique Kawaminami)
"Muitos hospitais que têm condições de fazer a cirurgias de maior elaboração técnica estão superlotados pelas emergências. Leitos estão ocupados com pacientes que entraram pela urgência. Se você for lá na Santa Casa de Campo Grande, que é o melhor serviço de ortopedia do Mato Grosso do Sul, vai ver os leitos do setor cheios de pacientes que sofreram queda, acidente de moto, por exemplo", diz.
Os hospitais de Mato Grosso do Sul que toparam fazer as operações ortopédicas, agora com a nova tabela, são a Santa Casa de Bataguassu; o Hospital Adventista do Pênfigo de Campo Grande; a Santa Casa de Cassilândia; o Hospital Soriano Correa da Silva de Maracaju; o Hospital Beneficente de Rio Brilhante; e a Unidade Mista Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de Santa Rita do Pardo.
Fora do mutirão - O "MS Saúde: Mais Saúde, Menos Fila" ainda não acabou. A previsão é atender cerca de 48 mil pessoas ainda para fazer as esperadas cirurgias de ortopedia e outras mais delicadas, como as vasculares e as plásticas reparadoras, além de mais cirurgias oftalmológias que, em quantidade, serão os procedimentos mais realizados.
O "sonho de consumo" do Estado, continua Simões, é não precisar ficar lançando mutirões e atender pacientes no tempo ideal, e concentrar os investimentos em rede hospitalar estadual que está sendo formada nas principais regiões.
"O foco na rede estadual hospitalar é o sonho de consumo. Se a gente puder, até o último ano de [da atual gestão] do governo, não ter esse problema na saúde pública, com as pessoas operando na medida que elas precisam. [O cenário atual] desafia muito maior a capacidade de apresentar uma solução", finaliza.
Fonte: CampoGrandeNewsAbandonar o emprego e ver a saúde definhar enquanto anos se passam à espera de uma cirurgia que não é urgente, mas também não pode deixar de ser feita, é sofrimento que se arrasta na vida de muitos que enfrentam as filas da rede pública de saúde. Essa situação se agravou com a pandemia de covid-19, que empurrou tudo o que não era emergencial para depois.
Em Mato Grosso do Sul, as cirurgias ortopédicas – para corrigir problemas no ombro, coluna e pernas, por exemplo – são a maioria dessas demandas na Justiça, para quem os pacientes recorrem quando não são atendidos. O governo estadual lançou há mais de um ano o mutirão "MS Saúde: Mais Saúde, Menos Fila", como plano para dar fim à elas, mas admite que tem enfrentado dificuldades para isso.
O secretário estadual de Saúde, Maurício Simões, lembra que a proposta inicial era usar a soma de R$ 62 milhões em verbas do Estado e do Ministério da Saúde, para pagar as cirurgias aguardadas em hospitais públicos ou privados. Os pagamentos foram baseados em tabela de remuneração própria, mais atrativa por fixar valores até seis vezes maiores que a tabela do SUS (Sistema Único de Saúde).
Cirurgia nos olhos feita pelo mutirão em hospital de Fátima do Sul (Foto: Álvaro Rezende/Governo de MS)
Nesta quarta-feira (29), ele disse que considera "subir ainda mais a tabela", já que a última oferta para hospitais e médicos cirurgiões se credenciarem para atender os pacientes com problemas ortopédicos não teve sucesso. "Não tivemos adesão, então, eu tenho justificativa para oferecer 8, 9 ou 10 vezes a tabela, para ver se profissionais e hospitais se interessam", falou.
O mesmo desinteresse não foi problema na hora de atender quem esperava por cirurgias oftalmológicas, que em geral são mais simples, baratas e rápidas. "A gente ofereceu duas vezes a tabela e tivemos cirurgia oftalmológica por todo o Estado", compara o secretário. Tanto é que, entre as quase 15 mil operações feitas dentro da primeira etapa do mutirão, a maior parte foi nos olhos (8.682).
Ele também explica que, mesmo não sendo de alta complexidade, as cirurgias ortopédicas mais demandadas exigem uma análise individual do paciente, o que acaba inviabilizando uma "produção em série" no mutirão com cirurgiões operando de forma padrão.
Além do preço e das especificidades da ortopedia, outra barreira é achar leitos disponíveis em Campo Grande, onde está a maioria dos especialistas.
O secretário, que também é médico cirurgião, explica que as cirurgias ortopédicas não podem ser feitas como "produção em série" (Foto: Henrique Kawaminami)
"Muitos hospitais que têm condições de fazer a cirurgias de maior elaboração técnica estão superlotados pelas emergências. Leitos estão ocupados com pacientes que entraram pela urgência. Se você for lá na Santa Casa de Campo Grande, que é o melhor serviço de ortopedia do Mato Grosso do Sul, vai ver os leitos do setor cheios de pacientes que sofreram queda, acidente de moto, por exemplo", diz.
Os hospitais de Mato Grosso do Sul que toparam fazer as operações ortopédicas, agora com a nova tabela, são a Santa Casa de Bataguassu; o Hospital Adventista do Pênfigo de Campo Grande; a Santa Casa de Cassilândia; o Hospital Soriano Correa da Silva de Maracaju; o Hospital Beneficente de Rio Brilhante; e a Unidade Mista Nossa Senhora do Perpétuo Socorro de Santa Rita do Pardo.
Fora do mutirão - O "MS Saúde: Mais Saúde, Menos Fila" ainda não acabou. A previsão é atender cerca de 48 mil pessoas ainda para fazer as esperadas cirurgias de ortopedia e outras mais delicadas, como as vasculares e as plásticas reparadoras, além de mais cirurgias oftalmológias que, em quantidade, serão os procedimentos mais realizados.
O "sonho de consumo" do Estado, continua Simões, é não precisar ficar lançando mutirões e atender pacientes no tempo ideal, e concentrar os investimentos em rede hospitalar estadual que está sendo formada nas principais regiões.
"O foco na rede estadual hospitalar é o sonho de consumo. Se a gente puder, até o último ano de [da atual gestão] do governo, não ter esse problema na saúde pública, com as pessoas operando na medida que elas precisam. [O cenário atual] desafia muito maior a capacidade de apresentar uma solução", finaliza.