Aluna morre após ser expulsa de escola e mãe cobra psicólogo na rede pública


Guicela Matos mora em Campo Grande e é mãe de Beatriz, que a deixou aos 14 anos (Foto: Cassia Modena)

Há cinco anos, Beatriz era uma adolescente de 14 que cursava o Ensino Médio em uma escola estadual de Campo Grande. Mesmo tão jovem, enfrentava uma depressão e fazia sessões com uma psicóloga do CEM (Centro de Especialidades Médicas) no turno em que não estudava.

 

Era amada e apoiada pela família. Mas, no meio do turbilhão de emoções da doença e da própria adolescência, uma briga com uma colega mudou tudo. "A minha filha foi expulsa da escola e três dias depois cometeu suicídio", fala baixinho a mãe, Guicela Matos.

 

Na época, preferiu não questionar a decisão da expulsão por entender que poderia mexer ainda mais com o estado emocional da filha. Pensou que transferi-la para outra escola seria um jeito mais rápido de deixar para trás o que aconteceu.

 

"A Beatriz nunca tinha brigado na escola. E aí a direção achou melhor 'cortar o mal pela raiz' porque nunca houve briga ali. Me chamaram, conversaram comigo e eu falei que concordava. Até porque eu conhecia a minha filha e ela não ia ficar quieta", conta.

 

 

Mãe abraça Beatriz; "ela deu sinais", diz hoje, após a morte da filha (Foto: Arquivo pessoal)

Guicela explica que houve violência física, mas ninguém ficou ferido. Na diretoria da escola, não houve nenhuma tentativa de mediação antes da expulsão, segundo ela.

 

"Foi só a gotinha d'água que faltava para acontecer. Depois, eu fui estudar e ver os sinais: minha filha já não estava conseguindo comer, estava mais triste, ficava no cantinho dela, não estava conseguindo mais dormir", relata.

 

Psicólogos nas escolas - A mãe evita pensar no que poderia ter impedido a morte da filha. Mas, hoje, defende que a presença constante de profissionais como psicólogos e pedagogos atuando diretamente nas escolas pode ajudar estudantes que também estão em sofrimento como Beatriz estava, seja por problemas familiares ou na própria escola, como o bullying.

 

"Para dar suporte, ir acompanhando. Às vezes, a criança ou adolescente se expressa 'agredindo' o outro com palavras por causa da separação dos pais, porque o pai é alcoólatra. Quem agride também precisa de ajuda", defende.

 

A violência é uma resposta a alguma coisa, acredita Guicela. "Agredir alguém pode ser uma forma deles se mostrarem fortes, porque precisam ser", afirma.

 

No Brasil, os casos de violência nas escolas crescem. As principais formas praticadas são de ordem emocional, envolvendo constrangimento, tortura psíquica, ameaça, bullying e injúria.

 

Em Mato Grosso do Sul, foram registradas 155 denúncias relacionadas no Disque 100, no ano passado.

 

 

Arte: Lennon Almeida

A reportagem questionou as Secretarias de Educação do Estado e Município, responsáveis pelas escolas públicas, sobre como funciona a assistência psicológica aos estudantes e entendeu que, atualmente, não existe a presença permanente que Guicela sugere.

 

A Secretaria Estadual de Educação primeiro informou que existe uma coordenadoria de psicologia educacional, que desenvolve trabalho integrado às comunidades. Ela não faz atendimento clínico de estudantes e profissionais da rede estadual.

 

"A atuação visa instrumentalizar e colaborar com as escolas na articulação intersetorial e interinstitucional, envolvendo os setores da saúde, assistência social, justiça e segurança pública na garantia de direitos estabelecidos, a fim de proporcionar aos estudantes permanência no processo de escolarização com suporte pedagógico e socioassistencial, nas questões que incidem no processo de ensino e aprendizagem ou em violações de direitos", explicou em nota.

 

O atendimento direto do psicólogo ao estudante da rede estadual é possível nas sedes de coordenadorias regionais de educação e na secretaria. "Se dá por duas vias: por meio de ações da própria coordenadoria, que pode identificar situações de vulnerabilidade nas unidades escolares, ou mediante solicitação por parte dos gestores da rede", finaliza.

 

Já quanto aos estudantes das escolas municipais de Campo Grande, a Secretaria Municipal de Educação informou que também tem uma coordenadoria de psicologia e assistência educacional.

 

Ela promove palestras com psicólogos que têm vivências nas escolas e também mantém uma equipe de psicólogos para ir até a escola acolher o aluno ou ouvi-lo na sede da coordenadoria, quando uma situação difícil é identificada ou o próprio estudante pede.

 

"As demandas partem de situações observadas por professores, coordenadores e diretores, podendo ser solicitado também pelos próprios alunos. Nesses casos, é necessário autorização de pais e/ou responsáveis, para que a equipe de psicologia possa acolher o aluno", afirma. Os profissionais, após, poderão encaminhar o estudante a "órgãos específicos", segundo a secretaria, a depender do caso.

 

Projeto - Para ajudar outras pessoas a enfrentar o luto de perder um filho ou outro familiar, Guicela criou o projeto Mães que Acolhem com Amor.

 

 

A mãe veste camiseta do projeto que fundou após perder a filha, o Mães que Acolhem com Amor (Foto: Cassia Modena)

O que era apenas uma conversa entre mães enlutadas tomou uma proporção maior e virou uma rede de apoio que atende pessoas de todos os Estados. Psicólogos voluntários começaram a surgir para atender gratuitamente quem não tem condições de pagar sessões de terapia e não consegue vagas na rede pública.

 

O atendimento é gratuito e o pedido é recebido por este grupo de WhatsApp. O projeto realiza palestras e lives também. Conheça mais na página @maesqueacolhemcomamor no Instagram.

 

Ajuda - Em Mato Grosso do Sul, o GAV - Grupo Amor Vida presta apoio emocional na prevenção do suicídio. Ligue sempre que precisar. O telefone é 0800-750-5554 (a ligação é gratuita).

 

A rede pública tem as seguintes opções:

 

CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde);

UPA 24h, SAMU 192, Pronto Socorro; Hospitais. 

Fonte: CampoGrandeNews



Aluna morre após ser expulsa de escola e mãe cobra psicólogo na rede pública

Guicela Matos mora em Campo Grande e é mãe de Beatriz, que a deixou aos 14 anos (Foto: Cassia Modena)

Há cinco anos, Beatriz era uma adolescente de 14 que cursava o Ensino Médio em uma escola estadual de Campo Grande. Mesmo tão jovem, enfrentava uma depressão e fazia sessões com uma psicóloga do CEM (Centro de Especialidades Médicas) no turno em que não estudava.

 

Era amada e apoiada pela família. Mas, no meio do turbilhão de emoções da doença e da própria adolescência, uma briga com uma colega mudou tudo. "A minha filha foi expulsa da escola e três dias depois cometeu suicídio", fala baixinho a mãe, Guicela Matos.

 

Na época, preferiu não questionar a decisão da expulsão por entender que poderia mexer ainda mais com o estado emocional da filha. Pensou que transferi-la para outra escola seria um jeito mais rápido de deixar para trás o que aconteceu.

 

"A Beatriz nunca tinha brigado na escola. E aí a direção achou melhor 'cortar o mal pela raiz' porque nunca houve briga ali. Me chamaram, conversaram comigo e eu falei que concordava. Até porque eu conhecia a minha filha e ela não ia ficar quieta", conta.

 

 

Mãe abraça Beatriz; "ela deu sinais", diz hoje, após a morte da filha (Foto: Arquivo pessoal)

Guicela explica que houve violência física, mas ninguém ficou ferido. Na diretoria da escola, não houve nenhuma tentativa de mediação antes da expulsão, segundo ela.

 

"Foi só a gotinha d'água que faltava para acontecer. Depois, eu fui estudar e ver os sinais: minha filha já não estava conseguindo comer, estava mais triste, ficava no cantinho dela, não estava conseguindo mais dormir", relata.

 

Psicólogos nas escolas - A mãe evita pensar no que poderia ter impedido a morte da filha. Mas, hoje, defende que a presença constante de profissionais como psicólogos e pedagogos atuando diretamente nas escolas pode ajudar estudantes que também estão em sofrimento como Beatriz estava, seja por problemas familiares ou na própria escola, como o bullying.

 

"Para dar suporte, ir acompanhando. Às vezes, a criança ou adolescente se expressa 'agredindo' o outro com palavras por causa da separação dos pais, porque o pai é alcoólatra. Quem agride também precisa de ajuda", defende.

 

A violência é uma resposta a alguma coisa, acredita Guicela. "Agredir alguém pode ser uma forma deles se mostrarem fortes, porque precisam ser", afirma.

 

No Brasil, os casos de violência nas escolas crescem. As principais formas praticadas são de ordem emocional, envolvendo constrangimento, tortura psíquica, ameaça, bullying e injúria.

 

Em Mato Grosso do Sul, foram registradas 155 denúncias relacionadas no Disque 100, no ano passado.

 

 

Arte: Lennon Almeida

A reportagem questionou as Secretarias de Educação do Estado e Município, responsáveis pelas escolas públicas, sobre como funciona a assistência psicológica aos estudantes e entendeu que, atualmente, não existe a presença permanente que Guicela sugere.

 

A Secretaria Estadual de Educação primeiro informou que existe uma coordenadoria de psicologia educacional, que desenvolve trabalho integrado às comunidades. Ela não faz atendimento clínico de estudantes e profissionais da rede estadual.

 

"A atuação visa instrumentalizar e colaborar com as escolas na articulação intersetorial e interinstitucional, envolvendo os setores da saúde, assistência social, justiça e segurança pública na garantia de direitos estabelecidos, a fim de proporcionar aos estudantes permanência no processo de escolarização com suporte pedagógico e socioassistencial, nas questões que incidem no processo de ensino e aprendizagem ou em violações de direitos", explicou em nota.

 

O atendimento direto do psicólogo ao estudante da rede estadual é possível nas sedes de coordenadorias regionais de educação e na secretaria. "Se dá por duas vias: por meio de ações da própria coordenadoria, que pode identificar situações de vulnerabilidade nas unidades escolares, ou mediante solicitação por parte dos gestores da rede", finaliza.

 

Já quanto aos estudantes das escolas municipais de Campo Grande, a Secretaria Municipal de Educação informou que também tem uma coordenadoria de psicologia e assistência educacional.

 

Ela promove palestras com psicólogos que têm vivências nas escolas e também mantém uma equipe de psicólogos para ir até a escola acolher o aluno ou ouvi-lo na sede da coordenadoria, quando uma situação difícil é identificada ou o próprio estudante pede.

 

"As demandas partem de situações observadas por professores, coordenadores e diretores, podendo ser solicitado também pelos próprios alunos. Nesses casos, é necessário autorização de pais e/ou responsáveis, para que a equipe de psicologia possa acolher o aluno", afirma. Os profissionais, após, poderão encaminhar o estudante a "órgãos específicos", segundo a secretaria, a depender do caso.

 

Projeto - Para ajudar outras pessoas a enfrentar o luto de perder um filho ou outro familiar, Guicela criou o projeto Mães que Acolhem com Amor.

 

 

A mãe veste camiseta do projeto que fundou após perder a filha, o Mães que Acolhem com Amor (Foto: Cassia Modena)

O que era apenas uma conversa entre mães enlutadas tomou uma proporção maior e virou uma rede de apoio que atende pessoas de todos os Estados. Psicólogos voluntários começaram a surgir para atender gratuitamente quem não tem condições de pagar sessões de terapia e não consegue vagas na rede pública.

 

O atendimento é gratuito e o pedido é recebido por este grupo de WhatsApp. O projeto realiza palestras e lives também. Conheça mais na página @maesqueacolhemcomamor no Instagram.

 

Ajuda - Em Mato Grosso do Sul, o GAV - Grupo Amor Vida presta apoio emocional na prevenção do suicídio. Ligue sempre que precisar. O telefone é 0800-750-5554 (a ligação é gratuita).

 

A rede pública tem as seguintes opções:

 

CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde);

UPA 24h, SAMU 192, Pronto Socorro; Hospitais. 


Fonte: CampoGrandeNews


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